Saturday, December 8, 2007

Portugal, e alguns políticos portugueses, a começar pelo secretário de Estado das Comunidades, António Braga, e acabando na ministra da Educação, Manuela Rodrigues, escandalizaram-se com as declarações do presidente norte-americano George Bush, acerca de um programa de português como segunda língua incluído na proposta do Orçamento americano para 2008 que ele vetou com o argumento de que se tratava de uma despesa inútil (o ‘pork’ nos orçamentos, como é conhecido na gíria política).
A imprensa escrita e falada deu grande destaque às afirmações do presidente americano que durante dias marcaram os noticiários e suscitaram comentários de todos e mais alguns, de todas as partes do mundo.

Não vamos aqui comentar as opções do senhor Bush, que já provaram ser, em muitas outras ocasiões, totalmente contrárias à realidade, e por isso têm a importância que têm. Deixaremos isso aos nossos cronistas e comentadores que certamente saberão contra-argumentar com factos e números e provar, mais uma vez, ao senhor presidente que está errado.
No entanto, não podemos deixar passar em claro uma situação que pode ser classificada de hipocrisia, e até cinismo, de alguns políticos em Portugal que se insurgiram conta as afirmações do senhor Bush afirmando aos quatro ventos que ele desconhece a importância da língua portuguesa, que é falada por 220 milhões de pessoas em todo o mundo (António Braga disse mesmo 250 milhões!, não sei onde foi ele buscar este número...) instrumento de trabalho nas instâncias internacionais, a terceira língua ocidental, e bla, bla, bla, bla, bla.

Como isto vem de pessoas que têm responsabilidade na governação, nomeadamente no que diz respeito à defesa, divulgação e promoção da língua portuguesa no estrangeiro, ao contrário do senhor Bush, é caso para perguntar o que têm eles feito na defesa dessa língua a mais que o presidente americano para se escandalizarem desta forma. Sim, porque quem tem a obrigação de a defender é Portugal. E os restantes países de expressão portuguesa.
No caso de Portugal, e em relação aos Estados Unidos e Canadá, sabe-se que este país não gasta um euro sequer em acções directas no ensino do português desde há muitos anos. E na Europa é o que se vê: cursos encerrados ou com falta de professores, pais na rua exigindo o ensino do português para os seus filhos. E em relação ao Brasil e restantes países dos PALOPs a situação é ainda pior.
Por isso perguntamos se os nossos políticos não estarão a ser cínicos criticando o presidente americano nesta opção, apesar de sabermos que ela é errada e transporta consigo uma enorme carga depreciativa face àquilo que é a identidade de um povo e também em relação à enorme comunidade portuguesa residente neste país.
Ou pensam os políticos portugueses, brasileiros e dos outros PALOPS que cabe aos Estados Unidos promover o ensino do português nas escolas americanas, como eles fazem com o inglês nas suas? As situações, e os interesses, são diferentes e o português não é o inglês. E se nós queremos que a nossa língua seja falada pelos americanos (ou outros povos), temos que começar primeiro por gostarmos nós dela, apostando na sua defesa e promoção, dentro e fora de portas. O que não tem sido, manifestamente, o caso.
Como dizia o outro, nestas questões o mais importante não é pôr o ovo, mas sim o cacarejar da galinha que o anuncia.

1 comment:

josé palmeiro said...

Totalmente de acordo com o que escreve.
A esse respeito, solicito autorização para usá-lo e difundi-lo, por cá.